Coluna: Pirapora e Buritizeiro não sabem mais o que é e nem como fazer uma verdadeira caipirinha (?)

Coluna Buteco do Max

por Max Rocha - @butecodomax

Fotos: Arquivo 

A caipirinha é uma bebida tradicional do Brasil. Clássica leva limão, açúcar, cachaça e gelo, que equilibram o azedo e o doce no mesmo copo. Alguns historiadores e especialistas apontam que tudo começou no final do Ciclo do Ouro, em 1790, quando Paraty/RJ tinha 87 engenhos de produção da aguardente de cana. A cidade é apontada como um dos berços da cachaça.

Assim como a cachaça, a caipirinha é um sumo do Brasil. Mas seu modo de fazer, apesar de simples, costuma levantar dúvidas sobre quantidades e ordem dos ingredientes. Por isso é preparada de forma incorreta em muitos locais. Durante 3 semanas visitamos 13 bares, restaurantes, quiosques, hotéis e pousadas (em Pirapora e Buritizeiro). Mas apenas 4 deles realmente acertaram. 

A receita clássica

Além de muitas formas erradas de fazê-la repetidamente, a caipirinha ganhou vários sabores e versões - feita com açúcar, xarope de açúcar e até adoçante (?). Para não se atrapalhar mais, siga passo a passo a receita original e clássica, a forma correta de preparar a bebida. 

A receita da caipirinha é protegida pelo Decreto nº 6.871/2009: “Com graduação alcoólica de 15 a 36% em volume, a 20 graus Celsius, elaborada com cachaça, limão e açúcar, poderá ser denominada de caipirinha (bebida típica do Brasil), facultada a adição de água para a padronização da graduação alcoólica e de aditivos”.

Essa receita clássica, registrada na IBA (International Bartenders Association) é a seguinte: 50 ml de cachaça, limão taiti e 2 colheres de chá de açúcar. Preparo: Coloque o limão e o açúcar num copo estilo Old Fashion (copo alto) para macerar. Encha o copo com gelo e depois cachaça. Dessa forma, a bebida é considerada um coquetel montado – ao invés de erroneamente batido, mexido ou misturado.

Os erros mais comuns

Vários estabelecimentos preparam a caipirinha esmagando o limão em um copo baixo com açúcar. Enchem o copo com gelo e completam com cachaça. A forma é totalmente inconsistente, pois não tem as mesmas proporções de ingredientes e cada preparo sai de um jeito. Uns com mais álcool, outras com mais limão ou excesso de gelo - ficando aguadas.

Espremer o limão direto no copo é outro erro, pois cada limão produz uma quantidade diferente de suco. O copo fica cheio de bagaços da fruta, dificultando saborear a bebida. Por isso, o ideal é sempre servir a caipirinha em um copo mais alto, sem excesso de bagaços ou miolos da fruta, dando espaço para a cachaça. 

Caipirinha, caipiríssima ou caipiroska?

A caipirinha é tão famosa que ganhou diferentes versões, como a caipiroska - usando diferentes componentes alcoólicos. Em essência, é o mesmo drink. Limão, gelo e açúcar. Entretanto, a caipirinha é feita com cachaça e a caipiroska com vodka. Para os mais tradicionais, a mudança na receita é uma ‘blasfêmia’. 

Ao preparar a mistura com vodka, seu sabor fica ligeiramente menos intenso, fazendo com que a bebida seja apreciada também por aqueles que não gostam do sabor marcante da cachaça. Porém, na mixologia, o termo “caipirinha” refere-se somente ao drink clássico. Cada variação tem um nome diferente: “caipiroska” (à base de vodka), “sakerinha” (quando feita com sakê) e “caipiríssima” (com rum).

Assim, convencionou-se dizer que “caipifruta” é o drink popular feito com cachaça ou vodka, mas usando outras frutas diferentes do limão - morango, kiwi, manga, maracujá, pêssego, abacaxi etc. O assunto é tão sério e polêmico que em 2003 o País registrou uma legislação específica para definir o que realmente é a caipirinha - reconhecendo oficialmente o drink como um produto inerentemente brasileiro. 

Caipirinha + picolé = Caipilé?

Não há mais o que fazer para incrementar a caipirinha, certo? Negativo. Para os dias quentes, boa sugestão é acrescentar um picolé ao drinque. Além de refrescar o líquido, quando derrete, ele reforça o sabor da mistura. Assim surgiu a “Caipilé”, combinação de caipirinha com picolé, principalmente de frutas.   

Velhos conhecidos do verão, a caipirinha e o picolé (combinados no drink) viraram ‘hit’ em muitos bares “descolados”, como opção para aplacar o calorão. Detalhe, além da tradicional cachaça, a ‘Caipilé’ vem sendo preparada com vodka e saquê. Os mais ousados finalizam com um picolé de leite condensado. Há quem diga a ‘gourmetização’ da caipirinha é um dos ‘sinais’ do fim dos tempos.

Max Rocha 

Jornalista, Assessor de comunicação multimídia, Educador (Ciências Humanas) e Gestor do projeto publicitário @butecodomax

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